terça-feira, 3 de abril de 2018

SUBLIMAR É ELEVAR




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            A capacidade de sublimação é prerrogativa apenas do ser humano. Trata-se, portanto, de um mecanismo libertador de dinâmicas fantasmáticas que escapam ao recalcamento, pela susceptibilidade de serem transformadas em algo elevado, social ou culturalmente; isso passa-se com os instintos primários do indivíduo, com os seus impulsos ou com outro tipo de tendências marginais não educadas. Assim, a transformação a que nos referimos caminha no sentido do transcendente, quer ao nível do pensamento, quer da ética e da estética, quer ainda no que diz respeito a todas as formas de expressão artística.

            Dotada deste extraordinário privilégio, a espécie humana, deste há tempos imemoriais, tem conseguido erguer essa eficaz defesa do self, no seu próprio interesse, e caso não enferme de psicopatologias impeditivas – enfim, as coisas variam de sujeito para sujeito e de sociedade para sociedade–, integrando na personalidade os impulsos e pulsões pré-genitais, devido à transfiguração positiva destes no âmbito social e cultural. Em termos técnicos, e tal como se aprende em Psicanálise, tudo não passa de um fenómeno psicodinâmico inconsciente de substituição, de um impulso infantil.

            Sublimar advém, a um tempo, etimologicamente, do grego e do latim, e reflecte o conceito de “elevar, levantar”, conforme o título em epígrafe. A noção de sublimação foi inicialmente lidada por Freud (1856-1939), tendo este discernido sobre o assunto na sua obra “Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade”. Segundo a sua hipótese, no indivíduo, a finalidade sexual seria objecto de um desvio para uma finalidade não sexual, ou seja, o crescendo da excitação sexual seria redireccionado, idealmente, no sentido de potenciar a elevação das aptidões psíquicas, conforme teor do primeiro parágrafo.

            Mas Freud também considera que este processo pode ser completo ou imcompleto, o que determina que, por mais talentoso que seja o artista, a análise caracterológica do mesmo é passível de revelar a proporção existente entre capacidades, perversões e neuroses, dado que é sobre os fundamentos orgânicos do carácter que se constrói o edifício psíquico. Este aspecto particular da questão em apreço subentende a relação dialéctica intrínseca entre as tendências instintivas, as repressivas e a capacidade de sublimação, que a educação potencia.

            Tanto quanto nos parece, Freud estava ciente das subtilezas inerentes ao fenómeno estudado, nomeadamente, no que toca à complexa relação de sujeição dicotómica entre o biológico e o social, o que coloca de parte, desde logo, a própria liberdade do Eu, que a representação dos interditos (super-eu) condiciona. Esta, porém, varia em função da época sócio-história em presença, como é fácil de perceber, tendo em conta o enquadramento ideológico de cada uma delas e a diversidade das representações sociais, culturais e organizacionais.

            Uma última ideia apenas, para referir que nenhum nexo de causalidade é só isso e nada mais, mas que o efeito determinado também é, simultaneamente, dinâmica causal; para além da reciprocidade activa dos fenómenos e da sua influência mútua, pode verificar-se uma descaracterização identitária oponível que leva à alternância dos papéis iniciais, num encadeamento de causalidades. Não podemos, portanto, entender como linear o conceito de sublimação.

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