terça-feira, 3 de abril de 2018

PENSAR DÁ QUE PENSAR



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            Wilfred Rupert Bion (1897-1979) foi quem mais terá pensado sobre este assunto: o pensamento. Segundo Bion, tudo tem o seu início na relação pioneira com o outro – a mãe. Esta seria a condição sine qua non para a constituição e funcionamento do aparelho psíquico; a partir da elaboração de uma “narração” dirigida ao pai, através do  psiquismo materno, as primeiras produções psíquicas do bebé transformar-se-iam em pensamentos. Melhor, o pensamento aqui cinge-se ao âmbito boca-seio e estende-se a uma relação continente-conteúdo, passível de melhorar a satisfação da experiência emocional, ampliando o enquadramento do objecto parcial; uma vez introjectada, a experiência fará parte da função alfa.

            Sobre este processo Bion afirmou que: “o que era, no princípio, a conversação da mãe, no exercício de uma função rudimentar de designação, é substituído pelo balbuciar próprio da criança” – lalação – (Learning from Experience, p. 111). Com o seio ausente, no entanto, a pré-concepção do mesmo liga-se a uma frustração e a criança vive a experiência do não-seio; este transformar-se-á em pensamento se o bebé possuir suficiente capacidade para tolerar a frustração, enriquecendo o aparelho para pensar os pensamentos, aprendendo com a experiência. Caso contrário, o bebé evacuará projectivamente os maus conteúdos experienciados pelo ego, alojando-os no continente.

            Pensar, contudo, faz parte de um processo cognitivo generalizado que não vive apenas da percepção. O pensamento recorre sem cessar a representações mentais imagéticas, à reorganização interna do nosso vivido subjectivo, da nossa consciência auto-biográfica, da consciência alargada, memória, inteligência, das experiências sensoriais, também no âmbito mais lato do imaginário conceptual e simbólico. O indivíduo pode controlar o seu pensamento ou, ao invés, deixar-se levar pelo mesmo: nas psicoses ou como quando sonhamos acordados e somos embalados por devaneios fantasiosos, movidos a partir do inconsciente.

            Jean Piaget (1896-1980), psicólogo suíço, estudou em profundidade as várias fases do desenvolvimento da criança relativamente ao pensamento. Neste mesmo espaço, publicámos já dois escritos sobre a temática: “Os Legados Conceptuais de Piaget” e “As Descobertas de Piaget”. Sendo assim, não repetiremos aqui e agora o teor dos mesmos.

            A espécie humana comunica por meio da linguagem, embora pense, sobretudo, através de imagens. Linguisticamente, as palavras são signos arbitrários, providos de duas faces como se de uma moeda se tratasse: de um lado temos o significado, isto é, a coisa nomeada e, do outro apresenta-se-nos o significante, quer dizer, os símbolos gramaticais codificados. Desta maneira arquitectam-se os conceitos utilizados na linguagem, e a interiorização dos mesmos ao nível simbólico torna possível a transmissão do conhecimento inerente aos factos, através dos espaço e do tempo.

            Uma última referência ainda, embora breve, às disfunções do pensamento: estas podem afectar tanto o conteúdo como a forma do pensamento. Nos doentes mentais verificam-se este tipo de perturbações, como a perda da capacidade de conceptualização, de simbolização, o distúrbio na forma de leitura da realidade, na manutenção das relações inter-subjectivas comunicacionais, o que pode configurar no doente aspectos regressivos, indutores  do pensamento primitivo, mágico e solipsista infantil.

           



2 comentários:

  1. Gostei muito do seu texto. Não conhecia o pensamento de Wilfred Rupert Bion. Percebo que seja através da mãe que a criança comece a assimilar uma linguagem, ainda que precoce...
    Uma boa semana.
    Uma beijo, meu Amigo.

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  2. Olá Humberto, uma interessante abordagem desta relação que reforça a afirmativa de ser a família p centro de nossas ações pela vida e a mãe vem como o eixo deste movimento, como se pode auferir deste belo texto.As referencias ornam seu belo trabalho da psique.
    Grato pela partilha amigo.
    Semana boa e leve para voce.
    Abraços

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