quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A NOVA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA



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    Em termos gerais, sempre que olhamos para a sociedade, podemos dizer que se trata de um organismo vivo, a exemplo do que se passa com o corpo humano, e que as pessoas são o sangue que gira nas veias desse mesmo organismo.

      Como em qualquer corpo vivo, para que as coisas possam correr, consigam funcionar, sejam capazes de se desenvolver, é fundamental que haja saúde. Para que haja saúde devem ser tomados os devidos cuidados, sem os quais o organismo vivo – a sociedade, para utilizarmos aqui o paralelismo inicial – não conseguirá nunca equilibrar-se e avançar, segundo o rumo traçado, visando atingir objectivos de paz democrática, de desenvolvimento e de melhor qualidade de vida.

     Evidentemente que, sempre que em determinado organismo existe uma dada doença, mais ou menos grave, mas ainda assim não terminal, esse corpo social pode, da mesma forma evoluir com maiores ou menores dificuldades, fazendo sofrer os hospedeiros que o habitam mas, tentando sempre progredir. É o que nos parece que acontece com a sociedade portuguesa.

         Em Portugal, no dia 25 de Abril de 1974, rompeu-se com o regime profundamente conservador e tacanho que vigorava até então e institucionalizou-se um novo regime, de feição democrática, com liberdade de expressão, de imprensa, de voto, de feição pluri-partidária.

       É a partir daqui, e com o decorrer dos anos, das décadas (vamos comemorar já os 43 anos da Revolução), que as coisas avançaram, não só porque teriam mesmo de evoluir segundo o ritmo natural das mesmas, mas também porque, alicerçados numa sociedade dotada de novas característica estruturais, formais e substanciais, tudo, ou melhor, quase tudo foi ou deveria ter sido feito para que os vários sistemas inseridos na nossa sociedade – o político-ideológico, o sistema de saúde, o sistema educativo, o sistema económico-financeiro, o sistema de segurança social, etc., etc., stc., pudessem melhorar e contribuir para o avanço do nosso desenvolvimento pessoal e social, assim como para a melhoria da qualidade de vida de cada um de nós, em particular, e de todo o tecido social e de toda a teia institucional, em geral.

         Nos últimos 43 anos nem tudo foram rosas... quer dizer: nem tudo foram cravos, mas, justiça seja feita, e não obstante as múltiplas contradições a que a democracia nos tem sujeitado, o balanço, que desejamos todos olhar como sendo positivio, registou a massificação do ensino, com o qual os vários ministérios da Educação não souberam convenientemente lidar; contou com o alargamento do acesso à habitação social por parte de certas franjas da população em vias de indigência (velha e nova pobreza); contemplou o “boom” das novas tecnologias (não referiremos aqui os seus aspectos nocivos), do qual beneficiam principalmente os mais jovens que as bebem desde o berço e que, portanto, as tratam por tu; beneficiou das aturadas e constantes vitórias da ciência, nomeadamente da medicina curativa (novos e surprendentes tratamentos do cancro, dos problemas cardio-vasculares, das doenças infecto-contagiosas, das doenças respiratórias, do aparelho digestivo, etc., etc..

         Com tudo isto, ganhámos muita coisa e perdemos alguma coisa também. A vida é hoje mais trepidande, mais cansativa. Continuamos a correr cada vez mais, não sabemos muito bem atrás de quê. Existem nuvens negras e intrigantes a pairar sobre a própria economia e já nem os especialistas conseguem descortinar exactamente o que se passa. Como exemplo apontaremos apenas a intenção da banca (será só a C. G. D.?!), de aumentar um sem número de taxas e taxinhas; o actual executivo cortou em 2 (dois) pontos percentuais a taxa que pagava aos portugueses pela venda de dívida pública (prémio de permanência), o que pode ser interpretado como uma cedência aos mercados secundários; a bolha imobiliária (finais de 2016) volta a desembestar, impante... Os empreiteiros não aprendem, mesmo. Decidida e definitivamente, o sacrifício e as correrias, para além de assumirem aspectos bizarros, não são, realmente, para todos.

          Perdemos também a segurança e a estabilidade do emprego. Tanto o patronato como os governos tentam impôr-nos mais horas de trabalho e salários mais baixos ou congelados (o aumento do salário mínimo de 2017, pasme-se, recorre ao mealheiro da Segurança Social), enquanto que o grande capital continua a inchar de lucros, mormente os especulativos.


         Sem incorrer em pessimismos, a verdade é que a Europa tem permitido a incompreensível invasão de produtos estrangeiros, desprovidos de qualidade e resultado de mão-de-obra infantil, bem próxima da escravatura, o que é contrário aos mais elementares princípios dos Direitos Humanos que a Europa diz defender, e torna vulneráveis as nossas empresas e a nossa política laboral, deitando por terra todo o conjunto de conquistas sociais tão dificilmente conseguidas ao longo desta nossa democracia. Já para não falar do que poderá estar para vir, em resultado do proteccionismo redutor de um recém-eleito presidente, nos estados da Norte América. Falta abrir os olhos, ganhar coragem e bater o pé. A Europa tem de se afirmar de novo.

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