quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A EDUCAÇÃO COMEÇA NO BERÇO

Imagem do Google


        Uma das notícias emitidas na manhã de 10 de Agosto de 2016 referia uma constatação extraordinária mas, quanto a nós, nada surpreendente: “existe um número crescente de unidades hoteleiras, em Portugal, que rejeitam admitir crianças nas suas instalações”. Se conseguirmos penetrar na real e total dimensão de toda esta problemática, sem discutir a ilegalidade de tal interdição, rapidamente perceberemos as reticências ou até mesmo a intransigência que move os proprietários dos hotéis, cujos investimentos possam eventualmente ser postos em causa pelos azougados pivetes em roda livre, quando não em deplorável modo anárquico.

            Será que é disto que se trata, afinal!?...

            Ainda há dias, um conhecido psicólogo da nossa praça mediática (televisiva) aludia à importância do “não”, do saber e ser capaz de dizer “não” às criancinhas, aliás, tão necessitadas de normas, balizas e padrões comportamentais, como de pão para a boca. E é de pequenino, no seio da família, que se torce o pepino, caso contrário, o natural estado selvagem em que se nasce não será moldado nunca. É importante que todas as crianças e cada uma vão adquirindo, gradualmente, equlibradas capacidades de socialização, na família, na escola e na sociedade, través do respeito por si próprias e pelos outros, bem entendido, se os pais fores conscientes e responsáveis.

            A constelação familiar constitui a teia dinâmica fulcral ao desenvolvimento psíquico da criança, de acordo com toda a diversificada caracterologia daquela, onde têm maior relevo as condutas dos progenitores, dos irmãos e de eventuais educadores. Curiosamente, sobre esta matéria, Adler não deu importância à hereditariedade de factores psicológicos, apontando antes as influências do meio ambiente, isto é, a família em primeiro lugar, encontrando-se a mãe à frente dos restantes elementos. Na obra “O Sentido da Vida”, a dado passo, este autor escreve: “É, provavelmente, ao sentimento de contacto materno que devemos agradecer a maior parte do sentimento humano, de solidariedade e também a existência essencial da cultura”.

            Um outro grande cientista – António Damásio, ainda vivo e actuante, ensina-nos que “o cérebro retém uma memória daquilo que aconteceu durante uma interacção, e a interacção inclui de forma relevante o nosso próprio passado, e muitas vezes o passado da nossa espécie biológica e da nossa cultura” (Damásio, 2010: p. 171).


E porque da educação de crianças se trata, concluiremos com uma nova achega deste mesmo neurologista, quando aponta a morosa extensão temporal da infância e da adolescência humanas e a prolongada e lenta necessidade de educação dos processos não-conscientes do nosso cérebro, visando criar aí, nesse mesmo espaço, algo que possa vir a funcionar, de forma “controlada e fiável”, em função de “intenções e objectivos conscientes” (Damásio, 2010: p. 332). E acrescenta, reiterando o ponto de vista da neurofilósofa Patricia Churchland: “Podemos descrever esta educação lenta como um processo de transferência de parte do controlo consciente para um “server” não-consciente, e não a cedência do controlo consciente às forças inconscientes que podem provocar o caos no comportamento humano” (Damásio, 2010: p. 332).

1 comentário:

  1. Mais um importante texto de reflexão, meu amigo.
    É verdade que há crianças que nem sempre se comportam da melhor maneira. Mas daí a proibir-se-lhe a entrada nos hotéis...
    No entanto já há hotéis que aceitam animais... Em que mundo estamos, afinal?
    Um beijo.

    ResponderEliminar