domingo, 26 de junho de 2016

A PROBLEMÁTICA PREMENTE DA HIPERACTIVIDADE INFANTIL


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     Se tivermos em linha de conta determinado estímulo de aprendizagem, perante crianças como as que pertencem ao conjunto, mais numeroso do que seria de supor, daquelas que enfermam de hiperactividade comprovada, verificaremos manifestações de forte ansiedade e impulsividade que afectam a percepção e a concentração, levando-as a ter grandes dificuldades em seleccionar o atrás referido estímulo, durante longos períodos de tempo.

            Não sendo, embora, tirados a papel químico os vários comportamentos e reacções das crianças em presença, ao longo de uma aula ou quando submetidas aos diferentes testes, como é óbvio, podemos observar, por vezes, a tendência para falar muito alto, por manifesta indisciplina (descontrolo) vocal; forte agitação motora e excitação, tipo “pilha de nervos”, o que impede a correcta postura corporal mais conveniente para que o trabalho possa decorrer normalmente, logo incorrendo nos óbices inerentes a um quadro muito mais lato de hiperactividade onde pode predominar o défice de atenção, a movimentação electrizante ou a impaciência.

            Nesta conformidade, recomenda-se o acompanhamento individualizado, para que as tarefas escolares propostas à turma, em geral, ou ao aluno, em particular, possam ser processadas; temos tido o hábito de, desde o início da nossa experiência docente, aconselhar os pais e encarregados de educação a submeterem os filhos nestas condições a uma avaliação neurológica, para que possam ser despistados eventuais danos na estrutura e funcionamento neurológicos; também, dispondo ou não, o agrupamento, de serviços de Pedopsiquiatria (onde é que há disso, em Portugal?!), devem ser envidados todos os esforços, no sentido destas crianças poderem ser submetidas a exames médicos rigorosos que lhes possam minimizar problemas ligados à reflexibilidade e controlo do corpo, fazendo diminuir a agitação motora, através de medicação apropriada.

            No que toca à Figura Complexa de Rey, na generalidade, estas crianças apresentam capacidades bastante reduzidas para copiar os dados percepcionados; apresentam, portanto, baixa maturidade perceptiva na tarefa de cópia; revelam não ter noção do conjunto do estímulo perceptivo que observam, o que se traduz nas dificuldades de integração espaço-visual, pelo que devem ser estimuladas, nesta área, com exercícios de desenho livre e desenho gráfico. Também a memória visual de curto prazo é afectada, o que leva estas crianças a distorcer alguns dos elementos que foram objecto de cópia. Torna-se fundamental o exercício estimulante da cópia, visando acicatar a memória respectiva de trabalho. Por último, mas não menos importante (“the last, but not the least”), verificam-se inúmeros e repetidos enganos na produção de grafias (disgrafias) ou incapacitação para a escrita e para o desenho, também. Só mesmo o acompanhamento individualizado pode garantir a estas crianças o treino no sentido mais correcto.

       E eis que chegamos a uma outra área fundamentalmente indispensável no âmbito da aquisição das competências essenciais a qualquer criança que demanda o 1.º Ciclo do Ensino Básico: a leitura. É doloroso verificar-se o atraso de que enfermam estes alunos, ainda que manifestamente inteligentes e adoráveis. A leitura inicia-se mais ou menos tardiamente (pode exigir dois anos de frequência escolar), e, ainda assim, ser apenas hesitante, ou seja, no estádio da construção silábica, com dificuldade de identificação de algumas consoantes que facilmente trocam por outras, surgindo lentamente a leitura palavra a palavra (simples). Evidentemente que a velocidade de leitura é reduzida, até porque a consciência fonológica só agora começa a tomar forma.

            Escusado será dizer que o grau de compreensão da leitura é, ainda, neste estádio, inexistente, porque compreendem apenas as palavras se as mesmas forem “sacadas” com a ajuda exploratória do respectivo interlocutor; nesta conformidade, as crianças em apreço não conseguem perceber a mensagem contida na frase, nem tão pouco são capazes de interiorizar e abarcar matérias como as que o programa, por exemplo, da área do Estudo do Meio, exige no 2.º ano de escolaridade. Aqui, como é que se estruturam as questões a colocar a estas crianças e se consegue incitar o processo de procura de informação, considerando que estas crianças são ignoradas pelos responsáveis primeiros pela Educação, que para as mesmas não indigitam especialistas devidamente preparados para o efeito… Não aparece ninguém!!!

            Normalmente, tentamos que leiam bastante, na medida do possível e fazemo-las ouvir ler, todos os dias, num crescendo deste tipo de actividades, procurando não descurar os colegas que acompanham as tarefas diárias sem problemas de maior.

            Evidentemente que quem tem dificuldades deste tipo no que à leitura diz respeito, revela, necessariamente, também, profundas dificuldades ao nível do processo da escrita, dado que, como facilmente se depreende, vão prevalecendo as já atrás aludidas trocas de letras por deficiente identificação das mesmas, leitura errada de ditongos e, praticamente sempre, dificuldade na consolidação da identificação dos dígrafos (“ch”, “lh” e “nh”).


         Tratando-se de ditados, surgem amiúde os erros (alguns escabrosos), as omissões de letras, a ausência de palavras, o desmembramento de certas letras que “inexplicavelmente” abandonam as palavras a que pertencem, e, por vezes, transviam o sentido do próprio texto, mesmo com o interlocutor ao lado. Nalguns casos é a própria memória sensorial que é insignificante, exigindo o devido estímulo, procurando-se assim uma certa qualidade de descriminação sonora do estímulo audível (que julgamos nós ter sido escutado).

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