segunda-feira, 2 de maio de 2016

PSICOSSOCIAL OU NÃO?



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         Aquando do lançamento do romance A Paixão e Ressurreição do Soldado (Santos, 2014), alguém presente no evento dirigiu-se-nos para argumentar que a obra não seria de cariz psicossocial, dado toda a trama gravitar, fundamentalmente, em torno da personagem Francisco. Sim, claro – respondemos –, mas convém não perder de vista que, para todos os efeitos circunstanciais, oblíquos, o herói se move, relaciona e interage com outros indivíduos, em contextos diversos, que vão da família às Forças Armadas, de pequenos grupos de amigos às relações duais com as namoradas, passando ainda por certos momentos de melancólicas cogitações a sós, resultantes das equações conjugadas, conscientes e inconscientes, de certas vivências sociais empíricas (vivido subjectivo).  Psicossocial, sem dúvida!

            Não nos encontramos, portanto, perante uma obra que privilegia a análise comportamental, ou melhor, o estudo da psicologia individual do protagonista, até porque, se assim fosse, deparar-nos-íamos com uma realidade deveras estranha a tanger as raias da loucura: o herói, despojado de humanidade, viveria isolado, falaria sozinho, ou seja, estaria muito mais próximo de um qualquer bicho do deserto do que de um ser humano inserido no todo comunitário, num dado período histórico-filosófico.

            Em todo o caso, em que se traduz, afinal, o comportamento singular dos indivíduos, ainda que visto em função de reacções determinadas pelas suas necessidades intrísecas inelutáveis ou desejos mais ou menos prementes, sejam estes legítimos ou ilegítimos? Tanto as necessidades como os desejos, independentemente da pertinência das primeiras e da (i)legitimidade dos segundos, uns e outros, quer no âmbito de contextos de isolamento, quer no seio de enquadramentos colectivos, assumem resultados diferenciados. No primeiro caso, o “quantum de afecto” (energia pulsional) que investe, qualitativa (aversão ou atracção) e quantitativamente (intensidade), as representações, pode satisfazer a pessoa em causa em toda a sua dimensão subjectiva (princípio do prazer); no segundo caso, as representações são, necessariamente, muito mais objectivadas (princípio da realidade).


          Por último, resta-nos chamar a atenção do leitor para uma terceira abordagem passível de ser levada a cabo pela moderna psicologia, para além do enfoque psicossocial e da óptica psico-individual: trata-se da psicologia de grupo. No seio do grupo (turma escolar, grupo de trabalho, equipa de futebol, quadrilha, e outros ainda), e tendo em conta o perfil dos seus elementos e a liderança mais ou menos espontânea a que cada grupo, mais tarde ou mais cedo, se venha a submeter, os indivíduos adoptam comportamentos muito mais ousados (responsáveis ou irresponsáveis), afirmando-se através da complexa densidade do conjunto e da identidade introjectada do seu líder. Mas isto seria já tema para um novo escrito!

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