quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O SER E A APARÊNCIA

(Imagem do Google)
      
      Tudo o que é, não deixará nunca de o ser. Tudo o que percepcionamos, acaba por resultar sempre, necessariamente, da falibilidade dos nossos sentidos, daí não haver nunca coincidência entre o ser e a aparência; daí que o real não passe nunca de uma mera ilusão dos sentidos que o subjectivam e distorcem...
            
      Não, não vamos maçar o leitor com considerações filosóficas. Vamos antes, isso sim, conversar um pouco sobre certos fenómenos que ocorreram na campanha eleitoral de 2011 – a deste ano está ainda muito fresca – e que, aparentemente, distorceram a realidade, não sabemos se por mero acaso, se por força de concertadas estratégias desviantes, a par daquilo que se passa, também, no âmbito da diarreica profusão de sondagens, claramente penalizadoras da nossa tão maltratada democracia. 

      

      É que, ao invés de se formar e informar o povo, de acordo com aquilo que deveriam ser as campanhas eleitorais, apresenta-se-lhe um mal urdido conjunto de cortejos delirantes, incompreensivelmente ofensivos, onde perpassam as mais ridículas baboseiras, que as televisões cobrem exaustivamente, numa clara opção pelo interessante, em detrimento do importante, facultanto às audiências o que elas querem ver, e não o que deve ser visto – tudo isto calculadamente entremeado, como se disse, por um autêntico cataclismo de sondagens.
       
      Logo nos primeiros dias da campanha, surgiu a notícia (divulgada pelos habituais meios de comunicação social) de que cerca de 180.000 trabalhadores, tinham sido apagados dos ficheiros informáticos... Evidentemente que, e repetimos, nos reportamos apenas ao que a comunicação social fez passar, até porque está fora de questão ir mais longe. No entanto, e a exemplo do episódio referido, recorda-se aqui o que se passou na “civilizadíssima” França, em 1 de Agosto de 1995. Calculem!: foram não só suprimidos das listas estatísticas 300.000 desempregados, mas também todos os trabalhadores que cumprissem 78 horas de trabalho por mês... Leram bem, 78 horas mensais.
            
      Esta habilidade constituiu o ovo de Colombo! Mas como é que não se tinham lembrado antes?! Ardilosa brincadeira, esta; deplorável esperteza saloia... Divertida, no entanto, para quem não faz parte dos números, e com eles consegue jogar e viver, ostentando vergonhosas falsificações, numa estranha engenharia de interesses onde impera a demagogia, a falta de carácter e o eleitoralismo mais execrável.

            
      Quem pensa nas pessoas, afinal?! A democracia, esta democracia, não pode forçar os cidadãos a serem projectos de vida falidos, números estatisticamente enclausurados.

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