domingo, 21 de julho de 2013

A TOLEIMA DO INGLÊS

      Portugal, enquanto país inserido na Comunidade Europeia (até ver), não pode nem deve alhear-se da multiplicidade dos desígnios comunitários, mormente no âmbito da política educacional, onde o cidadão que não seja capaz de dominar, no mínimo, dois idiomas, estará, à partida, desfasado da natural ambiência cultural, relacional, comunicacional inerentes à normal interacção interpares do todo dos 28 estados membros.

      O aliciante da problemática vertente reside no facto da aprendizagem de uma segunda língua – para além da materna, dever ser recomendada para a fase etária em que se encontra a criança, depois de devidamente familiarizada com o 1.º Ciclo do Ensino Básico e com a estrutura basilar da Língua Portuguesa, bem interiorizada e consolidada, isto é, preferencialmente no 3.º ano de escolaridade... nunca antes!

      Primeira ideia a reter: aos alunos com dificuldades de aprendizagem, nomeadamente no âmbito da Língua Portuguesa, não devem ser ministradas aulas de inglês, mas devem, isso sim, ser facultados apoios no sentido de combater o insucesso verificado na aprendizagem da língua materna. É que a toleima do inglês, a que os pais aderiram alarvemente depois do eleitoralismo balofo dos governantes ter institucionalizado a sua leccionação ao desbarato, sem motivação nem enquadramento; sem avaliação dos contextos inerentes ao facto, nem selecção rigorosa de docentes cabalmente preparados para o efeito; sem experiência de princípios, nem conhecimento de causa, deixa tudo a desejar, numa escola cada vez mais à deriva, em rota de anárquica colisão de resultados, onde os meninos desfilam, no dia-a-dia, por mera rotina mimética.

      Fazendo jus ao ditado popular que nos alerta que é “de pequenino que se torce o pepino” (destino), com uma iniciativa desta dimensão, se acompanhada da sensatez para a qual temos estado a chamar a atenção, aposta-se, fundamentalmente, no desenvolvimento integral e integrado da criança, estimulando a comunicação oral e escrita, promovendo a igualdade de oportunidades, o conhecimento do mundo, a diversificação de culturas; facultando a desinibição; favorecendo, enfim, o sucesso mais alargado de todas as crianças envolvidas. No ensino precoce de uma língua, podem ainda ser acrescentadas vantagens ligadas ao desenvolvimento sócio-afectivo e cultural dos alunos, à tomada de consciência, por contraponto, da existência da língua materna como fenómeno; ainda a uma maior flexibilidade mental na formação de conceitos.

      Em todo este processo, convém não esquecer, o professor é tão importante como os alunos. Nesta medida, torna-se condição “sine qua non”, na leccionação de uma língua estrangeira, aos 3.º e 4.º anos de escolaridade, que os docentes possuam uma formação cuidadosamente adequada, de forma a aliar, para além das matérias curriculares impostas para os cursos de Línguas e Literaturas Modernas, nas suas vertentes diversas, as matérias das áreas curriculares também exigidas para o exercício da docência no 1.º Ciclo do Ensino Básico, sem esquecer o imprescindível estágio de um ano nas escolas do 1.º Ciclo. Claro que nada disto se tem verificado...


      Tenhamos sempre presente, também, que leccionar neste grau de ensino é muitíssimo mais difícil do que leccionar noutro qualquer, devido à exigência de reconversão das representações mentais do docente, no sentido de se fazer entender por esquemas mentais em constante redimensionamento formativo, pelo que a linguagem utilizada deve apresentar-se, configurando aturadas especificações, tendentes a facilitar a percepção e interiorização conceptual das temáticas abordadas; portanto, não basta, ao contrário do que muito boa gente pensa, ser professor de inglês ou, apresentar-se como habilidoso na matéria, explicador ou coisa que o valha. (CONTINUA)

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